Uma nova modalidade que dominou o mercado de games atraindo legiões de jovens pelo mundo não para de crescer: eSports.
Ao longo das décadas, os eSports ganharam contornos competitivos e deixaram de ser apenas games. Quem chegou a frequentar as lan houses jamais poderia imaginar que aqueles jogos que conquistaram o público gamer casual da época virariam parte de um negócio multimilionário, que atinge um público imenso e movimenta inúmeras indústrias e empresas no mundo inteiro. O que era casual virou assunto sério, e o que era brincadeira virou profissão.
Os eSports ou esportes eletrônicos referem-se a competições de jogos eletrônicos nas quais os atletas, que fazem parte de uma estrutura profissional, são assistidos por uma audiência presencial e/ou online, através de diversas plataformas de stream online ou TV. Quatro pilares fazem a engrenagem dos eSports rodar: os jogadores, as empresas de games eletrônicos, as ligas e as plataformas de streaming.
Origem
Os eSports têm origem no início da década de 70, com a realização das “Olimpíadas Intergaláticas de Spacewar”, um dos primeiros jogos de computador, na Universidade de Stamford, na Califórnia. O torneio, disputado entre estudantes da faculdade, tinha como prêmio um ano de assinatura da revista Rolling Stone.
Oito anos mais tarde, em 1980, a Atari organizou o Space Invaders Championship, a primeira competição de esporte eletrônico em larga escala, com aproximadamente 10 mil participantes vindos de várias partes dos Estados Unidos. Já em 1990, foi criado o Nintendo World Championships, com etapas em várias cidades dos EUA e com a final disputada na Califórnia. Quatro anos depois, o torneio ganhou uma segunda edição, a Nintendo PowerFest 94.
A chegada da Internet e da banda larga nos anos seguintes fez sumir a limitação física ou geográfica para a realização de eventos, causando um boom na quantidade de competições entre os anos 2000 e 2010: se apenas dez torneios foram realizados nos anos 2000, em 2010 já foram 160. Durante essa década, os principais torneios foram o World Cyber Games, o Intel Extreme Masters e a Major League Gaming. A primeira organização internacional de eSports, a G7, foi fundada na mesma época pelas equipes 4 Kings, Fnatic, MIBR, Mousesports, NiP, SK Gaming e Team 3D.
No Brasil, os lan houses eram um fenômeno de público nos 90 e 2000. Como, nessa época, a internet no país ainda era cara e de má qualidade, o serviço se tornou famoso ao oferecer uma boa conexão e diversos jogos, com destaque para o CS 1.6 e Quake. O sucesso das casas foi tanto, que elas passaram a realizar torneios de jogos eletrônicos, que cresceram, viraram um negócio lucrativo e ajudaram a impulsionar o desenvolvimento dos eSports dos anos 2000 em diante. Em 2011, foi lançado a Twitch, plataforma pioneira em transmissões de jogos eletrônicos, estimulando as premiações do setor.
Principais tipos de jogos
Battle Royale
O Battle Royale é o mais recente estilo de jogo do cenário competitivo. Popularizada com o lançamento de PlayerUnknown’s Battlegrounds, em 2017, a modalidade consiste na coleta de recursos (lootear) e na sobrevivência, vencendo o último jogador a ficar vivo. Além do PUBG, o Fortnite, o Free Fire e, mais recentemente, o Call of Duty: Warzone também fazem sucesso entre os Battle Royales.
MOBA
Os Multiplayer Online Battle Arena são um fenômeno entre os esportes eletrônicos. Nesse estilo de game, dois times se enfrentam em um mapa até um dos lados conseguir destruir a base da equipe oponente. Os jogos MOBA oferecem uma variedade de personagens que devem ser escolhidos pelos atletas e que possuem habilidades capazes de impactar a partida de maneiras diferentes. Seres que não são controlados pelos jogadores e torres de defesa da base também fazer parte do game. O League of Legends (LoL) e o Defense of the Ancients 2 (DotA 2), ambos jogados no PC, são os dois principais jogos entres os MOBAs.
FPS
Os jogos FPS ou de tiro em primeira pessoa são os mais tradicionais do mundo dos esportes eletrônicos. Eles são jogados da perspectiva de um jogador que carrega uma arma e foca no combate com armas de fogo. Os principais jogos desse estilo são o Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO), o Rainbow Six: Siege, o Overwatch, o CrossFire e, mais recentemente, o Valorant.
RTS
Os jogos RTS ou Real Time Strategy (Estratégia em Tempo Real) geralmente envolvem conquistar o território inimigo por meio de estratégias de guerra, incluindo a construção de exércitos, o aquecimento da economia, a produção de recursos e a criação de defesas perfeitas. O StarCraft II e o seu precursor Warcraft III são os jogos mais conhecidos do gênero.
Jogos de luta
Os jogos de luta são um clássico do cenário competitivo. Disputados entre duas pessoas (Jogador vs. Jogador ou PvP), esses games conquistem em causar dano no adversário até reduzir sua vida a zero. Street Fighter, Marvel vs. Capcom, Mortal Kombat e Dragon Ball são os principais títulos desse estilo.
Simuladores
Os simuladores tentam reproduzir as características dos esportes da vida real, como futebol, basquete e automobilismo. O FIFA, da EA Sports, é a franquia de maior sucesso do gênero. O PES, da Konami, e o F1, da Codemasters, são outros dois exemplos de jogos populares desse estilo.
Card games
Os jogos de carta promovem a disputa entre dois jogadores e misturam dois princípios importantes: a montagem do deck de cartas e a aplicação de estratégias. Os principais destaques desse gênero são Hearthstone, baseado no mundo de World of Warcraft – um MMORPG, combinação de MMOs e RPGs –, e GWENT, situado no universo de The Witcher.
Os Jogos Mobile
Os jogos mobile – celular e tablet – continuam a quebrar barreiras se mantendo como o segmento de maior receita em 2020 entre os games no mundo (US$ 77,2 bilhões, com um crescimento anual de 13,3%). Essa popularidade pode ser explicada pela baixa barreira de entrada no cenário, devido ao maior acesso a smartphones, à menor complexidade dos jogos para esse tipo de plataforma e ao surgimento dos games Lite, permitindo que qualquer um jogue e se divirta. O Free Fire, o Call of Duty: Mobile, o PES e o PUBG são alguns dos jogos de destaque entre os celulares.
Naturalmente, o cenário competitivo desses games também explodiu mundialmente, contribuindo com o crescimento da audiência dos esportes eletrônicos. No período de setembro a novembro de 2019, por exemplo, os jogos mobile foram responsáveis por 50 milhões de horas de visualização ao vivo – cerca de dez vezes mais que o número de horas do mesmo período de 2018.
Principais jogos
Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO)
Fortnite
Free Fire
League of Legends (LoL)
Os campeonatos, audiência e premiações
Extremamente estruturados e distribuindo premiações milionárias, os campeonatos de eSports são assistidos por milhões de pessoas em todo mundo. Em 2019, segundo a Newzoo, a audiência dos jogos eletrônicos foi de 453,8 milhões de pessoas, em um crescimento de 12,3% em relação a 2018. Já para 2020, o segmento tinha tudo para atingir a marcar de 495 milhões de pessoas, com um crescimento de 11,7% no espaço de um ano (em relatório anterior ao COVID-19).
Segundo o site Esports Earnings, voltado para pesquisa de valores dos campeonatos da modalidade, o DotA 2 é o principal jogo do mundo em termos de premiação, tendo desembolsado mais US$ 225 milhões em cerca de 1400 torneios. O Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO) aparece na sequência, com mais de US$ 99 milhões em cerca de 5000 campeonatos. A terceira posição é ocupada pelo novato Fortnite, com cerca de US$ 90 milhões em apenas 564 torneios, seguido pelo LOL, que distribuiu em torno de US$ 76 milhões em mais de 2400 competições.
No Brasil, ainda segundo dados da Newzoo, a audiência dos esportes eletrônicos chegava a 18,3 milhões de pessoas em 2018, com 7,56 milhões delas podendo ser classificadas como entusiastas, ou seja, que acompanham conteúdo profissional mais de uma vez por mês. Em 2020, esse número chegou a 24 milhões de espectadores, com 10,4 milhões de entusiastas. Já a Pesquisa Game Brasil 2020 apontou um crescimento significativo do conhecimento sobre eSports entre os gamers brasileiros, com 65,7% já tendo ouvido falar em esportes eletrônicos e 44,7% sendo praticante da modalidade.
A Riot Games é responsável por duas das maiores ligas de eSports do país: o CBLOL (Campeonato Brasileiro de League of Legends) e o Circuito Desafiante (Torneio de acesso ao CBLOL), que são transmitidos em diversas plataformas, como Youtube, Twitch e TV por assinatura, no SporTV. A final do CBLOL de 2019 teve recorde de audiência, com pico de 316 mil espectadores simultâneos, juntando as plataformas Twitch e Youtube, representando um crescimento de 40% em comparação aos 210 mil espectadores simultâneos da final de 2018. Além do CBLOL, a Liga Brasileira de Free Fire, que reúne, desde 2019, as principais equipes especializadas no game no Brasil, e o Campeonato Brasileiro de Rainbow Six Siege, com 10 organizações na disputa e R$ 500 mil em premiações, são outros dois grandes campeonatos do cenário competitivo nacional dos jogos eletrônicos.
As organizações
As organizações de eSports são parte fundamental na engrenagem dos esportes eletrônicos, arrastando milhões de fãs e torcedores ao redor do mundo e atingindo cifras que podem ser comparáveis às dos esportes tradicionais. Em levantamento feito pela revista americana Forbes, Cloud9 e Team SoloMid são as equipes mais valiosas do mundo, com valor de mercado de US$ 400 milhões, seguidas por Team Liquid, FaZe Clan e Immortals, com valor de mercado de US$ 320 milhões, US$ 240 milhões e US$ 240 milhões, respectivamente. Confira as dez organizações de eSports mais valiosas do mundo:
- Cloud9 – US$400 Milhões
- Team SoloMid – US$400 Milhões
- Team Liquid- US$320 Milhões
- FaZe Clan – US$ 240 Milhões
- Immortals Gaming Club – US$ 210 milhões
- Gen.G – US$ 185 Milhões
- Fnatic – US$ 175 Milhões
- Envy Gaming – US$ 170 Milhões
- G2 Esports – US$ 165 Milhões
- 100 Thieves – US$ 160 Milhões
Com a crescimento do seguimento dos esportes eletrônicos, os maiores times de futebol do mundo e do Brasil aproveitaram a oportunidade para entrar no seguimento e investir na modalidade. No cenário internacional, clubes como PSG, Wolverhampton, Basel, Werder Bremen e Ajax já apostaram no mercado competitivo dos games.
Já no território brasileiro, Flamengo, Santos, Corinthians, Cruzeiro e Atlético Paranaense decidiram se aventurar nos campeonatos de eSports, com destaque, em especial, para os torneios de League of Legends e Free Fire. Essas equipes se juntam a times tradicionais do cenário brasileiro, independentes dos clubes dos esportes tradicionais, como PaiN Gaming, Furia, MIBR, INTZ, Vivo Keyd e Red Canids.
Com informações de Globo Esporte